A Tennin e o Pescador
Seg 1 Mar 2010 - 17:54
Era primavera na bela praia de Miho no Matsubara, na região costeira de Suruga (hoje Shizuoka). E, por ser primavera, os pássaros cantavam alegremente nas formosas árvore de matsu (pinheiro) e davam um encanto todo especial àquela praia. O mar azul dançava ao sabor das ondas, iluminado pela luz do sol, fazendo brilhar pontos luminosos, como vaga-lumes cintilantes em pleno dia. Ao fundo, o imponente Monte Fuji, com seu topo nevado.
Hakuryo, um pescador que morava nas proximidades, vinha andando pelas brancas areias da praia e, de repente, sentiu um agradável perfume.
– Ah! Que perfume maravilhoso! – tentando localizar de onde vinha, viu algo cintilante movendo-se no galho de um pinheiro. Apurou bem os olhos e viu que se tratava de um tecido leve flutuando com o sopro da brisa. O pescador apanhou o tecido e percebeu que era um manto branco tecido com fios de penas. O perfume agradável vinha daquele delicado pedaço de tecido.
A peça era realmente deslumbrante e, a cada movimento, mudava de tonalidade, revelando-se algo de grande valor.
– Este manto deve ter caído do céu. É bonito demais para ser algo terrestre. Acho que encontrei algo muito precioso, digno de ser guardado como um tesouro do Japão – pensou o pescador.
Ato seguinte, Hakuryo foi para casa exalando o gostoso perfume que o véu desprendia. Resolveu que, naquele dia, não iria mais pescar. O achado era mais valioso que qualquer quantidade de peixe que conseguisse pescar. De repente, ouviu uma voz feminina, que pedia:
– Por favor, devolva-me esse véu, que é meu.
O pescador olhou para trás e viu uma jovem de admirável beleza.
– Eu encontrei esse manto, por isso ele vai ficar comigo. Pretendo levá-lo ao palácio imperial, para ser colocado junto aos tesouros sagrados do Japão. Portanto, é impossível dar a você esse véu de rara beleza.
– Sem o véu tecido com fios de pena, eu não posso voltar à Alta Planície Celeste. Ficarei presa na terra para sempre. Por favor, devolva meu véu.
Foi então que o pescador notou que a bela garota era uma tennin (habitante do céu). Seus cabelos negros e longos desciam pelo ombro dançando sobre sua veste prateada. Nunca, em toda sua vida, Hakuryo havia imaginado que pudesse existir uma criatura tão bela.
– Por favor, devolva meu hagoromo (véu de fios de penas) – disse, chorando, a ninfa celeste.
O pescador sentiu grande emoção ao ver as lágrimas rolarem pela alva e macia face da ninfa. Ela parecia ainda mais bonita derramando lágrimas.
– Está bem, vou devolver o véu, mas, antes, quero que dance para mim. Ouvi dizer que as ninfas celestes dançam maravilhosamente bem.
– Sim, eu dançarei para você, mas, por favor, devolva-me o véu, pois sem ele não poderei dançar.
– Oh, não! Se eu devolver o véu, você vai embora voando para o céu sem dançar para mim. Não sou idiota como você imagina – protestou o pescador.
– Nós, habitantes do céu, não mentimos jamais. Se eu disse que vou dançar para você, com certeza assim vou fazer. Esse tipo de desconfiança só existe aqui na terra. E, sem o véu, como posso dançar?
Hakuryo ficou envergonhado de ter desconfiado da bela tennin e devolveu, então, o véu, com pedidos de desculpas.
Assim que recebeu o véu, a bela ninfa celeste colocou-o sobre seus ombros e começou a dançar. Aos poucos, ela começou a flutuar, encantando o pescador com o ritmo harmonioso de seus gestos. Um indescritível perfume envolveu Hakuryo, que, hipnotizado pelo encanto da tennin, apreciava admirado aquele belo espetáculo. Dançando e dançando, a garota foi subindo em direção ao céu. Subiu mais alto que os pinheiros da praia de Miho, continuando sempre a dançar, e atingiu o sagrado Monte Fuji, desaparecendo nas nuvens que envolvem seu topo.
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