Gincana japonesa com muro móvel vira sensação da TV e da internet

TÓQUIO - Não é preciso falar japonês para ficar hipnotizado diante da programação televisiva no Japão. O produto mais famoso do país - e que faz dos japoneses uma referência mundial - são os desenhos animados (animês), mas a TV do outro lado do mundo tem muito mais. Os japoneses são apaixonados por programas um tanto bizarros, como games que provocam humilhação em último grau e pegadinhas cruéis. Mas o fenômeno made in Japan do momento, exportado para mais de 40 países, é quase ingênuo: um muro móvel que obriga os jogadores a se contorcerem para não serem esmagados.

Criado há quatro anos pelo Canal Fuji, o quadro continua surpreendendo os próprios produtores e atravessando os limites da Ásia. "Hole in the wall" - título em inglês para a atração conhecida pelos japoneses como "Nokabe" (algo como "parede com cérebro") - já inspirou o quadro "De cara para o muro", no "Domingão do Faustão", e é, segundo a produtora e distribuidora FreemantleMedia, um dos formatos de maior sucesso televisivo dos últimos dois anos em todo o mundo. O game show reúne participantes (no Japão são sempre celebridades) vestidos com macacões cintilantes para enfrentar um muro com formatos estranhos. Quem não consegue se encaixar é derrubado pela parede numa piscina. A descrição acima soa meio boba, mas o resultado é engraçado, e o estrondoso número de acesso aos vídeos do game no YouTube comprova seu apelo.

Na Grã-Bretanha, o "Hole in the wall" foi comprado pela BBC, o que causou uma série de protestos por parte de quem considera o quadro uma bobagem que não merecia recursos públicos. Mas o muro e seus buracos foram líderes de audiência entre os britânicos, assim como no Japão, Austrália e Holanda. A FreemantleMedia, pertencente ao grupo europeu RTL e que tem no currículo programas como o "American idol", confirma que mantém os olhos sempre abertos para as ideias únicas da TV japonesa, onde programas de variedade se espalham por todos os canais e os cenários kitsch são bem mais comuns que os high-tech.

Definitivamente, os japoneses sabem como inventar moda e ultrapassar limites. Gente famosa fazendo poses ridículas em macacões mais ridículos ainda e terminando o jogo dentro de uma poça tem sua graça, mas os games nipônicos vão muito além. Há um quadro em que as celebridades descem uma rampa de patinete e precisam atravessar uma passagem comprimida entre blocos de borracha. A maioria despenca no meio do caminho, claro, e a punição é estranhíssima: apresentadores vestidos de insetos atacam o participante e disparam sobre ele bolinhas de ping-pong. Um outro programa de auditório chegou a pendurar pedaços de carne sobre a cabeça de um grupo de moças e as colocou de cara para um dragão de komodo.

Mas, apesar do sucesso dessas atrações, para os teóricos o que realmente faz diferença na TV japonesa, e merece atenção do mundo todo, são os animês, que seguem o mesmo padrão de excelência dos adorados mangás (histórias em quadrinhos). Não é só a beleza dos desenhos que chama a atenção, mas a qualidade das histórias, com personagens complexos, que nunca se resumem à luta do bem contra o mal.

- Quadrinhos e animações são mídias com uma tremenda capacidade narrativa, mas o Japão é o único país que soube explorar esse potencial. Nos Estados Unidos essa linguagem sempre ficou limitada a determinados gêneros, como super-heróis, contos de fada infantis ou sitcoms familiares. No Japão é muito maior a criatividade para contar diferentes tipos de histórias - diz a professora Deborah Shamoon, da Universidade de Notre Dame, nos EUA, uma especialista em cultura pop japonesa.