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Airy
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Goban-zakura: A cerejeira tabuleiro de go Empty Goban-zakura: A cerejeira tabuleiro de go

Qua 16 Mar 2011 - 17:00
Antigamente, na província de Hitachi, havia um daimiô (senhor feudal) de nome Oda Sayemon. Ele entrou para a história como um homem que reagia furiosamente sempre que perdia no jogo de gô, um jogo japonês de pedras e tabuleiro.

Seus amigos próximos tentaram aconselhá-lo a controlar a ira; porém, todos os esforços foram em vão. Os adversários que ganhavam de Sayemon levavam uma bofetada no rosto com um pesado abanador de ferro, que, naquela época, os comandantes guerreiros usavam para dirigir seu batalhão em combate. E coitado de quem interferisse: Sayemon decapitava-o, por melhor amigo que fosse.

Dessa forma, ser convidado por Sayemon para uma partida de gô tornou-se um pesadelo. O bom senso dos servidores concluiu que era preferível deixá-lo ganhar ao invés de levar um humilhante golpe na cara.

Assim, sua habilidade no jogo não evoluía, pois ele não usava o raciocínio, já que todos o deixavam ganhar. Contudo, em seu conceito, ele se julgava o melhor de todos.

No terceiro dia do terceiro mês, em homenagem a sua filha, Chio, o senhor feudal ofereceu um banquete aos seus servidores graduados. Tradicionalmente, o dia 3 de março é o Dia da Boneca Hina (Hina no sekku), ocasião em que as meninas expõem bonecas que representam a corte imperial e recebem as amigas servindo saquê branco e doce.

Durante o animado banquete, Sayemon convidou Saito Ukon, um velho e fiel guerreiro seu, a jogar gô.

Ukon nunca havia jogado com o daimiô. Sentiu-se honrado pelo convite e, como um samurai, preparou sua mente para morrer, após dar uma lição em seu senhor.

Em uma sala decorada, foi colocado um goban (tabuleiro de gô) com as duas caixas contendo as pedras brancas e pretas. Conforme o costume, as pedras brancas pertencem ao jogador mais forte; e as pretas, ao mais fraco.

Sem cerimônia, Ukon apanhou as pedras brancas e deu o primeiro lance. O ato não agradou nem um pouco a Sayemon, o que ele procurou não demonstrar. Estava acostumado a ganhar e sabia que Ukon sairia derrotado e pesaroso pela derrota e por ter usado as pedras brancas.

Porém, o jogo terminou com a vitória de Ukon.

– Vamos jogar outra partida. Agora, vou mostrar que posso vencer quando quiser – disse Sayemon, convicto.

Novamente, Sayemon perdeu o jogo. Desta vez, ele não conseguiu disfarçar sua raiva. Com a voz trêmula de ódio, ele desafiou Ukon para mais um jogo.

Mais uma vez, Ukon foi o vitorioso. Sayemon ficou descontrolado e apanhou seu abanador de ferro. Levantou-se para desfechar uma violenta bofetada em Ukon. Inesperadamente, o velho Ukon segurou-lhe o pulso e disse:

– Meu senhor, que idéia faz a respeito do jogo de gô? Para mim, seu fiel servidor, creio que o jogador mais preparado ganha a partida. Meu conselho é que o senhor estude melhor as técnicas, para vencer de fato seus parceiros de jogo, e não se vangloriar por vencer aqueles que se deixaram derrotar, para não serem submetidos a sua ira.

Sayemon encarou Ukon com um olhar cheio de ódio. Ukon curvou-se, submisso, até sua cabeça tocar o assoalho.

– Vassalo insolente! – gritou Sayemon – Permaneça com a cabeça curvada, pois vou decapitá-lo.

– Sua espada foi feita para matar seus inimigos, e não seus servidores – disse Ukon, ajoelhado e de cabeça abaixada – Não é preciso me matar, porque eu já fiz o harakiri, para pagar com minha vida o atrevido conselho que lhe dei. Peço que não sacrifique mais seus fiéis servidores por esse capricho de querer ganhar todas as partidas de gô.

Ukon levantou a cabeça, abriu sua roupa e mostrou seu ventre cortado horizontalmente, de lado a lado.

Após um momento, Sayemon baixou a espada com força sobre o tabuleiro, cortando-o em dois. Aquilo foi significativo. Parecia dizer que Sayemon não jogaria mais gô.

O daimiô ajoelhou-se ao lado de Ukon e disse:

– Ukon, meu mais velho e fiel servidor. Perdoe-me. Seguirei seus conselhos, corrigindo minha conduta.

Ukon foi enterrado no jardim do castelo, junto ao tabuleiro de gô. Sayemon mudou, tornando-se um daimiô justo para o seu povo.

Alguns meses depois, uma cerejeira brotou de seu túmulo. Três anos mais tarde, no terceiro dia do terceiro mês, ela floriu.

Quando a cerejeira cresceu, o povo viu que a casca de seu tronco estava rachada em quadradinhos e lembrava o tabuleiro de gô. A árvore foi considerada sagrada. Ainda hoje, ela atrai turistas que viajam para apreciar a “cerejeira-tabuleiro de gô”.
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