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Airy
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O deus da Pobreza Empty O deus da Pobreza

Qui 18 Fev 2010 - 19:03
O deus da Pobreza Pobreza

Há muitos e muitos anos, em algum lugar do Japão, vivia um casal que tinha muitos filhos. Apesar de a família trabalhar bastante, vivia na miséria. Um dia, desgostosos da situação, que nunca melhorava, decidiram deixar de trabalhar.

Quando o inverno chegou, já não havia nem arroz nem verduras para comer. Todos estavam sentindo muita fome, e os filhos disseram:

– Papai, nós temos muita fome, queremos comer alguma coisa.
– Perdão, eu e a mamãe trabalhamos muito, sempre demos duro, mas não sei por que sempre fomos pobres. Falei com a mamãe e decidimos deixar tudo por conta do “seja o que deus quiser”. Se vocês concordarem, saímos desta cidade e vamos tentar a sorte em outro lugar.
– Sim, nós vamos embora. Se continuarmos aqui, vamos morrer de fome – disse o filho mais velho.
Assim, resolveram que se mudariam dentro de três dias e começaram a arrumar as bagagens que levariam. Nessa noite, o pai viu uma criatura estranha em sua casa e levou um tremendo susto.
– Quem é você? O que faz aqui?
– Ora, sou o Binbogami, o deus da Pobreza, e moro aqui – respondeu o ser, que era meio homem e meio oni (demônio).
– Deus da Pobreza?
– Sim. Vivo há muito tempo nesta casa, mas nem sempre sou visível para vocês.
– E o que está fazendo agora?
– Eu vou embora com vocês, por isso estou confeccionando tabizori (calçado para viagem) de palha de arroz para mim. A viagem pode ser longa.
– Você também vai embora?
– Sim, vamos continuar vivendo em harmonia numa nova casa.
Surpreendido com tudo aquilo, à noite, o homem confidenciou tudo para a esposa, contando detalhadamente o ocorrido.
– Então é por isso que sempre fomos pobres! O deus da Pobreza mora em nossa casa.
– O pior – disse o marido – é que ele quer ir com a gente.
– Se ele for conosco, de nada vai adiantar, vamos continuar na miséria. Nesse caso, é melhor ficarmos aqui.
Ao amanhecer, o deus da Pobreza já estava esperando a família na varanda, pronto para partir com o pessoal.
– Puxa, estão demorando demais. Vou fazer mais calçados de palha, para matar o tempo enquanto espero.

O deus da Pobreza esperou o dia inteiro e nada de a família sair com as malas. No dia seguinte, aconteceu a mesma coisa, e ele continuou fazendo calçados para passar o tempo. Assim, esperou durante alguns dias e acabou fazendo muitos calçados. Ele até gostou de fazer sandálias e fazia-as com prazer.
Ao ver os calçados prontos, alguns vizinhos elogiaram, porque eram bem-feitos e pareciam ótimos para andar na neve. Ao ouvir os elogios, o deus da Pobreza ficou entusiasmado e passou a produzir mais ainda.

O dono da casa, vendo que todos os achavam bem-feitos, resolveu vender os calçados. Assim, levou-os até o centro do povoado, trocou-os alguns por alimentos e vendeu outros por bom preço. Porém, lembrou-se que, se o deus da Pobreza continuasse morando com eles, de nada ia adiantar ganhar algum dinheiro, que logo ficaria pobre de novo. Então, resolveu se livrar de vez de Binbogami.
– Com a venda das sandálias, recebi muito dinheiro. Por isso, vamos fazer bastante comida – disse o homem ao deus da Pobreza.
O jantar dessa noite foi regado a saquê (vinho de arroz) e muitas iguarias. O homem convidou Binbogami para jantar com a família. O deus da Pobreza, vendo toda aquela fartura, disse:
– Agora que vocês têm muito dinheiro, eu não posso continuar vivendo nesta casa. Só vou aceitar um pouco de saquê e esta noite mesmo vou embora.
Assim, pouco depois, ele calçou uma bota de palha e foi embora. O casal ficou muito feliz em se livrar do deus da Pobreza.
Antes de dormir, o pai resolveu tomar um banho de ofurô (banho quente de imersão) para amenizar o efeito do saquê. Porém, no corredor, deu de cara com Binbogami.
– Você ainda está aqui?
– Eu fui para outra casa, mas não me senti muito bem, por isso resolvi voltar.

O casal se entreolhou e pensou: “O que vamos fazer? Será que nossa sina é morar sempre com o deus da Pobreza? Pensando bem, já estamos acostumados com a presença dele aqui”.
Assim, Binbogami passava o dia inteiro fazendo sandálias e tomando goles de saquê. Como a produção era grande, concluíram que logo ia faltar palha de arroz para fazer sandálias e dar continuidade ao trabalho. Então, o casal resolveu semear arroz, para poder aproveitar a palha.
Passados alguns meses, não só o arrozal produziu belas palhas, como enormes cachos de arroz.
– Pelo menos sabemos que, agora, não vai mais faltar arroz para comer – disse o dono da casa para a esposa.
– Acho que, sobre o efeito alcoólico do saquê, o poder empobrecedor de Binbogami foi amenizado.
Contam que eles nunca chegaram a se tornar ricos com a venda das sandálias ou do arroz, mas pelo menos não faltou mais dinheiro e viveram felizes para sempre.

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