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Airy
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O Kozo e a Yamanbá Empty O Kozo e a Yamanbá

Sáb 20 Fev 2010 - 11:12
O Kozo e a Yamanbá Kozo2

Há muito, muito tempo, havia no Japão um templo aos pés de uma montanha. Nesse templo, moravam um monge e um kozo (menino aprendiz de monge). Certa ocasião, o monge disse ao seu auxiliar que fosse à floresta para apanhar flores, pois o dia seguinte seria o Shunbun no Hi (Dia do Equinócio da Primavera) e era preciso deixar o altar muito bonito, pois os fiéis viriam rezar. Muitas oferendas seriam trazidas por eles, principalmente ohagi, que é uma pelota de arroz branco coberta com pasta de feijão azuki, pois os espíritos dos antepassados das famílias japonesas juntam-se em volta das oferendas alimentícias.

– Sim, senhor – disse Kozo, enquanto se preparava para sair em busca das flores.

– Vou lhe dar três omamori (talismã protetor) especiais, pois existem na floresta monstros ferozes, como a Yamanbá (bruxa) e o Tengu (gênio da montanha). Se qualquer coisa perigosa acontecer, atire o talismã no chão e peça um encanto dizendo uma palavra que você deseja para o momento. Se você quiser um oceano, diga exatamente: “venha oceano” e haverá um oceano.

– Sim – disse o menino.

Pegando os talismãs encantados, ele saiu do templo. Na montanha, as flores da primavera surgiam por toda a parte. Eram flores grandes e vermelhas que chamavam muito a atenção. Kozo examinou-as seletivamente, procurando saber qual delas colher, pois todas eram lindas. Como estava difícil dizer qual era a mais bonita, tentou fazer uma escolha por tamanho. Procurou pela maior delas, mas que também fosse bonita. O menino finalmente chegou a uma moita de flores onde todas eram grandes, acima até de sua altura.

– Vou ficar com esta – pensou Kozo – Não, aquela é maior ainda! Oh! A outra lá atrás é maior e mais bonita! – assim, o menino foi se embrenhando na floresta, completamente embriagado pela beleza das flores. Quando se deu conta da situação, a noite já vinha chegando.

– Oh! Está escurecendo, preciso voltar correndo, senão não vou enxergar o caminho.

Kozo deu meia volta e começou a andar com pressa, mas logo percebeu que não havia passado por ali quando veio. Tentou ir para um lado e para outro, mas entendeu que já não conseguia saber o rumo do templo. Começou a ficar apavorado, caminhando sem direção e apressadamente. Nessa altura dos acontecimentos, o sol já havia desaparecido e a floresta era completa escuridão.

O menino pensou em gritar pedindo socorro, mas lembrou-se que seus gritos podiam atrair as feras e resolveu que andaria até encontrar algum lugar conhecido. Depois de caminhar um bocado, viu uma luz brilhar entre as árvores no alto da montanha.

– Que bom, deve ter alguém morando lá! – disse, aliviado, o menino e resolveu ir pedir ajuda. Foi em direção à luz até que pôde distinguir uma janela de cabana. Era de onde vinha a claridade. Kozo agradeceu ao Buda em pensamento e aproximou-se do casebre.

– Boa noite. Sou o Kozo. Perdi o caminho de volta ao templo e peço que me deixe passar a noite aqui.

Uma estranha voz se fez ouvir e a porta foi aberta. Era uma velha Yamanbá de aspecto horroroso quem atendeu a porta. Assim que viu o menino, a Yamanbá esfregou as mãos uma na outra e disse:

– Oh! Um belo menino entre, entre. Então está perdido nesta densa floresta? É um terrível problema.

Kozo sabia que estava encrencado, mas não havia nada a fazer, senão tentar ser agradável com a Yamanbá e não despertar sua fúria.

Dentro da casa, ele tomou uma sopa do caldeirão da Yamanbá e pensou:

– Vou dar no pé quando ela dormir.

Porém, na hora de dormir, a velha Yamanbá deitou-se ao lado de Kozo, aparentemente para vigiá-lo. Então, o garoto fingiu que estava dormindo, roncando bem alto durante alguns minutos. Depois, tentou ver os olhos da Yamanbá, que lhe pareceram fechados. Para certificar-se, disse baixinho:

– Yamanbá-san, Yamanbá-san...

– O que é? – perguntou a bruxa com voz repreensiva.

– Eu preciso ir a casinha. Acho que sua sopa de ervas foi muito forte para mim – disse Kozo, para justificar o fato de tê-la chamado.

Alegando que era para não se perder na escuridão, a Yamanbá amarrou uma corda na cintura de Kozo e indicou a direção da casinha, que ficava fora da casa, e ficou deitada segurando a outra extremidade da corda.

Chegando na casinha, imediatamente Kozo desatou o nó e amarrou a corda numa viga. Em seguida, curvou-se e suplicou com todo o fervor:

– Senhor deus da casinha! Senhor deus da casinha! Por favor, eu lhe peço, se a Yamanbá me chamar, diga apenas: “um minuto que já vou...” (bost! bost!) Eu imploro, por favor...

Assim, Kozo saiu de fininho, engatinhando apressadamente entre os arbustos.

A Yamanbá pensou que o aprendiz de monge demorava em fazer suas necessidades, tanto quanto são demoradas as rezas budistas. Porém, como a demora já estava demais, gritou irritada:

– Kozo, que demora é essa? Volte logo, seu...

Nisso, uma voz apertada respondeu da casinha:

– Um minuto que já vou... (bost! bost!)

Como não havia outra alternativa senão esperar, resmungando, a Yamanbá deu um tempo. Passado esse tempo, o garoto ainda não havia retornado. Cada vez mais irritada, a Yamanbá gritou chamando Kozo três ou quatro vezes. Entretanto, cada vez que gritava ouvia a mesma resposta:

– Um minuto que já vou... (bost! bost!)

Como a demora estava exagerada, a Yamanbá deu um puxão na corda, dizendo:

– Não importa o que você está fazendo, volte já para cá.

O puxão foi com tal força que a velha e malfeita casinha desmoronou, fazendo um barulho escandaloso.

– Caramba, acho que, com o puxão da corda, derrubei o menino para dentro da fossa! – pensou a Yamanbá, levantando-se. Quando chegou com a lamparina na casinha desmoronada, viu que o menino lhe havia enganado.

– Aquele Kozo pestinha me passou a perna!

Imediatamente, saiu correndo atrás do menino. Kozo estava perdido e havia andado em círculos pela floresta. Com seu faro aguçado, a Yamanbá logo localizou o menino.

– Kozo! Kozo! Me espera, seu pestinha! – gritou a bruxa às costas do menino.

O aprendiz de monge ficou arrepiado de medo ao ver a Yamanbá se aproximando em incrível velocidade. Quando ela já estava para botar as mãos nele, o garoto tirou um dos talismãs que o monge havia lhe dado, atirou-o no chão e disse:

– Transforme-se num rio, um rio grande!

De repente, seu omamori (talismã) transformou-se num enorme rio, cheio de fortes correntezas, e a Yamanbá ficou do outro lado. Kozo, então, tratou de fugir correndo.

A Yamanbá, com um gesto mágico, arrancou um pêlo do nariz e deu um tremendo espirro que derrubou uma árvore. O tronco caiu transversalmente sobre o rio, improvisando uma ponte. Então, a velha recomeçou a perseguição. Kozo não teve tempo nem para descansar. Logo ouviu atrás de si a voz cadavérica da Yamanbá:

– Kozo, Kozo! Seu pestinha, espere!

O aprendiz de monge então atirou no chão o segundo omamori e gritou:

– Transforme-se numa montanha muita elevada!

Nesse momento, surgiu uma montanha alta, mas a Yamanbá, que sempre morou em montanhas, sabia que, para chegar ao outro lado, bastava contorná-la, ao invés de subir ao pico e descer. Então correu em direção contrária à que Kozo fugia.

Horas depois, quando Kozo pensou ter se livrado dela definitivamente, deu de cara com a bruxa que vinha correndo em sua direção:

– Kozo, Kozo! Seu pestinha! Agora te peguei.

O aprendiz de monge imediatamente lançou mão de seu último talismã protetor. Atirou-o na direção da Yamanbá, gritando:

– Transforme-se em fogo! Um mar de fogo!

Naquele instante, uma labareda surgiu, e as chamas logo subiram tão altas como as árvores. Uma cortina de fogo impedia a passagem da Yamanbá. Com gestos mágicos, ela apanhou um ramo de árvore. Em seguida, recitando palavras incompreensíveis, começou a atravessar o fogo agitando o ramo.

Kozo pensou em fugir, mas, de repente, com a claridade do fogo, descobriu que estava quase em frente do templo.

– Oh! É o nosso templo! – disse, aliviado, o Kozo.

O garoto correu para a porta, mas, como era noite, estava trancada. Então, bateu com toda a força, chamando o monge.

– Osho-san, Osho-san! Abra a porta depressa! Estou sendo perseguido por uma Yamanbá. Abra depressa! Depressa!

De dentro do templo, Kozo ouviu a voz do monge.

– Calma menino, já vou abrir, espere um pouco que preciso fazer xixi primeiro.

– Osho-san, o senhor não entendeu! A Yamanbá está chegando perto da porta, abra logo, porta favor!

– Não seja impaciente, esqueceu os ensinamentos de Buda?! Estou lavando a mão e logo vou abrir.

Finalmente a porta abriu e Kozo, que já estava branco de medo, entrou correndo e se escondeu no cesto das roupas sujas da lavanderia, pedindo que o monge lhe escondesse da Yamanbá. Então, o monge içou o cesto para cima do telhado do poço. Nisso, ouviu a voz da Yamanbá, que havia chegado ao templo.

– Osho! Osho! Onde foi parar o Kozo?

– Yamanbá-don, aqui não apareceu nenhum Kozo.

– Osho, como não está, se eu vi com meus próprios olhos quando ele entrou aqui?

– Deve ser engano, Yamanbá-don. Se duvida, pode procurar à vontade.

A Yamanbá percorreu todo o templo, mas nada encontrou. No quintal, com seu faro aguçado, sentiu cheiro de criança. Foi seguindo a direção indicada pelo faro e chegou ao poço. Olhou para dentro dele e viu algo refletido na superfície da água. Como era noite, ela não percebeu que via o seu próprio reflexo.

– Ah! Descobri, o pestinha está escondido dentro do poço!

Assim, ela saltou para dentro do poço para pegar o Kozo. Vendo aquilo, o monge tratou de tampar o poço colocando uma pesada rocha sobre a tampa.

Desde então, ninguém mais removeu a rocha, que ainda hoje está sobre o poço, no quintal de um templo na montanha do Japão.

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