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Airy
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Jirohei no Sakura no Ki Empty Jirohei no Sakura no Ki

Seg 21 Dez 2009 - 13:26
Jirohei no Sakura no Ki Jiroheino-Sakura-no-ki


Na região norte de Quioto, existe um santuário xintô (religião nativa do Japão) de nome Hirano Jinja. Esse rincão sagrado é conhecido por suas preciosas árvores de cerejeiras. Entre essas árvores, existe uma centenária cerejeira (sakura), apelidada de Jirohei no Sakura. Essa árvore é, atualmente, uma atração turística. Durante sua floração, na primavera, muitas pessoas vão ao santuário para apreciar as flores e fazer pedidos de graças.

Antigamente, havia uma grande e próspera casa de chá próximo dessa cerejeira, cujo dono se chamava Jirohei. Ele iniciou seu negócio com um modesto casebre e ganhou dinheiro rapidamente. Assim, atribuía sua prosperidade às virtudes daquela velha árvore e não parava de agradecer. Sua veneração ia além das orações e agradecimentos; também a cercava de cuidados, aguando-a, estercando e impedindo que os garotos da localidade escalassem ou quebrassem seus galhos. Assim, a árvore foi prosperando junto com a casa de chá de Jirohei.

Certo dia, um samurai chegou ao templo de Hirano e resolveu descansar na casa de chá. Sentou-se num banco e ficou apreciando a floração da cerejeira. Era um homem mal-encarado, forte e de grande estatura.

– Você é o dono desta casa de chá? – perguntou o samurai.

– Sim, senhor, sou eu mesmo, deseja alguma coisa? – respondeu Jirohei.

– Não obrigado. Você tem uma bela cerejeira diante seu estabelecimento.

– Sim, senhor. Esta é uma árvore auspiciosa, a ela devo minha prosperidade. Agradeço que o senhor tenha expressado sua admiração por ela.

– Eu quero um galho bem florido dessa árvore, vou levar de presente para uma gueixa!

– Sinto muito, senhor, mas não posso atender seu pedido. Os sacerdotes do santuário me ordenaram a não deixar que nenhum galho desta árvore seja cortado, não importando quem quer que faça o pedido. De modo que peço sua compreensão. No mais, existe um velho ditado que diz: “Podemos cortar o galho florido da ameixeira para enfeitar o vaso, mas nunca o galho de cerejeira”.

– Você é um tipo de pessoa bem falante, desagradável e um tanto ingênuo; quando eu digo que quero uma coisa, você simplesmente deve ir buscar correndo. Portanto, vá cortar um belo galho da cerejeira para mim.

– Compreendo que o senhor é uma pessoa determinada, mas, ainda assim, devo recusar seu pedido – disse Jirohei educadamente.

– Não estou fazendo um pedido, meu caro, estou lhe dando uma ordem. Mas, como sua recusa é dita educadamente e com muito respeito, não vou obrigá-lo a cortar-me um galho de cerejeira. Eu mesmo o farei com minha afiada espada.

Assim dizendo, o samurai levantou-se e sacou sua espada. E foi junto à árvore para decepar um belo galho florido da cerejeira. Jirohei correu atrás e agarrou o braço do guerreiro, tentando impedir que ele cortasse tal ramo.

– Por favor, senhor samurai, não faça isso, não macule a árvore. Ofereço minha vida em troca do galho de sakura.

– Você é um idiota. Ninguém em sã consciência desvia um samurai de seu objetivo.

Assim dizendo, cortou um galho florido de sakura . Jirohei, tentando proteger o galho, entrou na frente do samurai. O golpe de espada, além de cortar o galho, rasgou o peito e a barriga do dono da casa de chá. Ensangüentado, Jirohei abraçou a cerejeira depois do golpe fatal. O samurai, vendo que o homem estava morrendo, afastou-se do local o mais depressa possível...

Quando a esposa de Jirohei e os empregados da casa de chá saíram para ver o que estava acontecendo, encontraram-no morto abraçado firmemente à árvore.

Daquele dia em diante, a casa de chá foi declinando pela falta de fregueses. O fato de alguém ter sido assassinado bem em frete a casa causava desconforto aos tradicionais freqüentadores que, aos poucos, foram sumindo, até desaparecerem completamente. Paralelamente, também a árvore começou a perder folhas até secar por inteiro. Obrigada a fechar a casa de chá, a viúva de Jihorei ficou sem razão para continuar vivendo e resolveu ir ao encontro ao seu marido, enforcando-se num galho seco da árvore moribunda.

Ela foi encontrada pendurada na enorme árvore seca numa noite de lua cheia. O cenário era horripilante. Depois disso, correu a notícia de que alguém tinha visto um fantasma circundando a cerejeira seca. Assim, ninguém se atrevia passar por lá após o anoitecer.

A casa de chá tornou-se uma ruína e começou a despencar. Então, o povo resolveu levantar um templo no local para ver se conseguia exorcizar o fantasma da árvore seca. Como o fantasma continuou aparecendo, o templo tornou-se impopular e praticamente sem freqüentadores. Por outro lado, ninguém tinha coragem de cortar a árvore que Jirohei havia defendido com a própria vida.

Como ninguém tinha visto sua cara, o samurai que matou Jirohei ficou calado e ninguém soube de seu segredo. Acontece que seu filho, um jovem samurai, intrigado com essa história de aparição, resolveu tirar o caso a limpo. Assim, comunicou aos amigos e familiares sua intenção de permanecer à noite perto da cerejeira seca. Caso o jovem samurai conseguisse, de alguma forma, exorcizar o fantasma, ganharia fama e garantiria um bom salário em algum castelo da redondeza.

Consta que, na noite do terceiro dia do terceiro ano da Era Keio (1865), o jovem samurai, apesar da tentativa de seu pai em não o deixar ir, foi sozinho e bem armado ao templo. Lá chegando, ficou escondido atrás de uma lanterna de pedra (ishidoro) observado a cerejeira seca.

Para seu espanto, quando chegou a hora do boi, a cerejeira seca repentinamente tornou-se coberta de flores, como no dia em que Jirohei foi assassinado. Vendo aquele fenômeno assombroso, o jovem samurai sacou de sua espada e atacou com fúria a árvore. Deu golpes violentos, cavando enormes sulcos no tronco da cerejeira. Nesse momento, ouviu gritos agonizantes que lhe pareceram vir de dentro do tronco. Depois, bastante exausto dos golpes, revolveu descansar à espera da aurora, para ver os danos que tinha causado na árvore assombrada.

Quando o dia clareou, o jovem samurai encontrou o corpo de seu pai retalhado junto ao tronco da cerejeira. Certamente, seu pai veio ao local com medo de que algo de mal pudesse acontecer ao filho. O jovem ficou desesperado ao ver o que tinha feito a seu pai.

Depois daquela noite, o fantasma da cerejeira nunca mais apareceu. Dizem que a cerejeira voltou à vida e continuou florindo todos os anos. Ninguém até hoje sabe explicar se o fantasma que apareceu era de Jirohei ou de sus esposa, que morreu enforcada. E existem teorias de que a cerejeira, quando teve o galho cortado pelo samurai, entrou em estado de choque, permanecendo numa espécie de hibernação até que o jovem samurai fizesse sulcos no tronco.

Fonte IFonte II
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