Shizuka-gozen e Sato Tadanobu
Sex 19 Fev 2010 - 14:41
No século XII, duas poderosas famílias disputaram o poder político do Japão durante décadas de guerra civil. De um lado, os Minamoto – conhecidos por clã Genji –; e do outro, os Taira – conhecidos como clã Heike. Na primeira fase, os Heike foram vitoriosos e dominaram o país por muitos anos. Porém, mais tarde foram derrotados pelos Genji, comandados por Minamoto- no-Yoritomo (1147~99). Durante uma série de batalhas em mar e terra, na guerra que ficou conhecida como Genpei, destacou-se um jovem general chamado Minamoto-no-Yoshitsune (1159~89), meio-irmão do comandante Yoritomo.
Os feitos de Yoshitsune durante a guerra ganharam grande popularidade, e ele se tornou um grande herói para o povo japonês. Nessa época, Yoshitsune tinha uma namorada chamada Shizuka, que era filha de Iso-no-Zenshi. A bela Shizuka Zenshi entrou para a história como Shizuka-gozen, pois gozen era um termo usado para identificar a mulher de um guerreiro. Shizuka era considerada uma das melhores shirabyôshi (praticante de dança sagrada) de Quioto.
Como reconhecimento por sua bravura, o imperador aposentado Goshirakawa presenteou Yoshitsune com um tsuzumi (tamboril – instrumento musical em forma de ampulheta). Como esse instrumento tem duas faces de couro, comentavam na corte que uma representava Yoshitsune e outra seu meio-irmão, o comandante Yoritomo.
Esses acontecimentos levaram Yoritomo a desconfiar que, devido à incrível popularidade conseguida por Yoshitsune, este poderia insurgir-se contra ele e tomar o poder. Então, ordenou que seu exército fosse ao encontro de Yoshitsune e acabasse com a vida dele. Realmente, havia comentários na corte que, se Yoshitsune batesse o tamborete tsuzumi, presenteado pelo imperador, uma rebelião seria conduzida com apoio da corte imperial contra o xogum Yoritomo. Entretanto, apesar de saber que seu irmão enviara um exército para matá-lo, Yositsune não bateu o tamboril, porque não queria guerrear com seu próprio irmão e com ele procurava conciliação.
Naquele dias, ocorreu um imprevisto: Mussashi-bo Benkei, monge guerreiro e fiel servidor de Yoshitsune, matou um soldado de Yoritomo, tornando quase impossível um entendimento entre os irmãos. Yoshitsune ficou furioso com Benkei e mandou que ele desaparecesse de sua frente, porém Shizuka intercedeu pelo amigo, dizendo a Yoshitsune que Benkei matou o servidor de Yoritomo por fidelidade a ele e deveria ser perdoado.
Como Yoshitsune não queria que seus fiéis guerreiros enfrentassem os soldados de Yoritomo, a única alternativa foi fugir para evitar o confronto.
Acompanhado de Shizuka e de cinco fiéis guerreiros: Mussashi-bo Benkei, Kamei Rokurô, Kataoka Hachirô, Ise Saburô e Suruga Jirô, para não chamar atenção por onde passasse, Yoshitsune empreendeu uma fuga e chegou ao santuário Inari (raposa) em Fushimi, localidade ao sul de Quioto.
Esse episódio envolvendo Shizuka e o tamboril deu origem a uma das mais famosas lendas do Japão.
Os cinco fiéis guerreiros de Yoshitsune reuniram-se e resolveram que Shizuka não devia mais acompanhar o grupo, pois estava retardando a fuga e pondo em risco a vida de todos. Se continuasse assim, seriam alcançados e exterminados pelo exército de Yoritomo.
Mas Shizuka queria acompanhar seu amado de qualquer modo e estava inflexível sobre a questão. Então, como prova de seu amor, Yoshitsune deixou sob a guarda dela o precioso tamboril que recebeu do imperador. Mesmo assim, Shizuka insistia em segui-lo. Não restou outra opção a Yoshitsune senão mandar seus guerreiros amarrarem as mãos de Shizuka num pilar do santuário.
– Logo, os sacerdotes estarão de volta e vão te libertar. Entenda que isso é para seu próprio bem, pois, se o exército de Yorimoto nos alcançar, não vão deixar ninguém vivo para contar a história.
Assim, Yoshitsune e seus guerreiros partiram do santuário Inari. Porém, antes que os sacerdotes voltassem, uma tropa comandada pelo capitão Hayami-no-Tota encontrou Shizuka.
– Mas que boa surpresa! A mais bela dançarina do Japão abandonada pelo seu herói e amante Yoshitsune.
– Abandonada nunca! Tenho comigo a prova do grande amor de Yoshitsune por mim: o tsuzumi imperial. Aconteceu que os guerreiros concluíram que eu estava atrasando seus passos e me forçaram a ficar aqui no santuário, sob a proteção dos sacerdotes – disse Shizuka, irritada.
– Soltem as mãos dela e vamos levá-la como prisioneira. Para mim, foi um presente dos deuses, eu não pretendia mesmo enfrentar os valentes guerreiros de Yoshitsune. Mas, levando sua amante e o famoso tamboril imperial, serei fartamente recompensado pelo comandante Yoritomo.
Os soldados de Tota agarraram Shizuka e arrastaram-na para fora do santuário Inari. A dançarina gritava a todo pulmão, resistindo violentamente à ação dos brutamontes. Naquele momento, surgiu um valente guerreiro. E, com incrível força e agilidade, foi derrubando um por um os soldados inimigos.
O guerreiro em questão era Sato Tadanobu, um fiel servidor de Yoshitsune. Assustados com a força sobre-humana de Tadanobu, os soldados saíram correndo de medo. O capitão Hayami estava fugindo com o tamboril. Vendo o instrumento musical sendo levado pelo inimigo, Tadanobu ficou furioso e perseguiu-o com incrível velocidade. Tomou o tamboril, matando Hayami-no-Tota a chutes, socos e golpes de artes marciais.
Yoshitsune e seu grupo, que ouviram os gritos de Shizuka ecoando montanha acima, voltaram a tempo de assistir de longe a façanha de Sato Tadanobu.
– Sou eternamente grato por ter salvado Shizuka e o tamboril. Mostrou uma valentia digna de um guerreiro Genji. Mas você não estava na sua terra natal, cuidando de sua mãe doente?
– Quando soube do desentendimento entre você e seu irmão, vim correndo para juntar-me a vocês.
– Tenho dois pedidos a lhe fazer: primeiro, aceite esta armadura como símbolo de minha gratidão. Segundo, peço que retorne a Quioto levando Shizuka. Seja a sombra dela, protegendo-a até que haja conciliação entre mim e meu irmão.
Sato Tadanobu abaixou a cabeça, expressando sua fidelidade, e Yoshitsune partiu confiante que sua amada estava segura sob a guarda do valente Tadanobu.
Com a investida do capitão Hayami-no-Tota, a bela Shizuka Zenshi compreendeu quanto sua presença seria perigosa na fuga de Yoshitsune. Assim, resignada, tomou o caminho de Quioto em companhia de seu guarda-costas, Tadanobu.
Pouco depois da primeira caminhada, encontraram um camponês que os alertou do perigo em continuarem na direção da capital. O exército de Yoritomo havia colocado postos de guarda nas divisas de cada cidade e várias tropas vinham naquela direção, vasculhando tudo.
Shizuka então resolveu que deveriam ir atrás de Yoshitsune, e ambos retornaram, seguindo na direção para onde fora o irmão de Yoritomo. O Monte Yoshino estava ainda coberto de neve, mas as mil cerejeiras já estavam todas floridas.
Shizuka ficou deslumbrada ao ver que o Monte Yoshino estava totalmente cor-de-rosa. Coberta de cerejeiras em flor, a floresta era um espetáculo da natureza de indescritível beleza. Então, ela resolveu descansar sob uma árvore, enquanto apreciava as flores.
De repente, ela percebeu que Sato Tadanobu havia desaparecido. Olhou para todos os lados e não havia ninguém perto dela. Vendo as pétalas das cerejeiras caindo levemente como plumas ao vento, Shizuka colocou o tamboril no ombro e resolveu tocar o instrumento enquanto cantava uma canção de amor e ensaiava passos de dança.
Quando ela produziu sons no couro do tamboril, repentinamente o guerreiro Sato Tadanobu surgiu ao lado dela. Shizuka levou um susto, mas conteve a emoção e continuou com sua música. Sem resistir à melodia, Tadanobu fez contradança com Shizuka.
Ela ficou admirada com a habilidade que Tadanobu tinha para dançar, pois era quase inacreditável que um homem forte, robusto e grande como ele pudesse dançar com gestos delicados de tamanha leveza.
Shizuka começou a desconfiar que aquele não era o guerreiro Tadanobu, mas, antes que pudesse interrogá-lo, ele havia desaparecido novamente. Solitária na bela paisagem florida do Monte Yoshino, a dançarina Shizuka compunha verbalmente poesias para seu amado. Quando tocava o tamboril para fazer acompanhamento, Tadanobu surgia repentinamente ao seu lado. Havia um mistério no ar.
Na verdade, aquele não era o verdadeiro Sato Tadanobu, e sim uma raposa branca encantada que se fazia passar pelo guerreiro. Pelo fato de ser uma raposa branca, quando não estava transformada na figura de Tadanobu, era confundida com a neve que cobria o chão do Monte Yoshino.
Fonte
Os feitos de Yoshitsune durante a guerra ganharam grande popularidade, e ele se tornou um grande herói para o povo japonês. Nessa época, Yoshitsune tinha uma namorada chamada Shizuka, que era filha de Iso-no-Zenshi. A bela Shizuka Zenshi entrou para a história como Shizuka-gozen, pois gozen era um termo usado para identificar a mulher de um guerreiro. Shizuka era considerada uma das melhores shirabyôshi (praticante de dança sagrada) de Quioto.
Como reconhecimento por sua bravura, o imperador aposentado Goshirakawa presenteou Yoshitsune com um tsuzumi (tamboril – instrumento musical em forma de ampulheta). Como esse instrumento tem duas faces de couro, comentavam na corte que uma representava Yoshitsune e outra seu meio-irmão, o comandante Yoritomo.
Esses acontecimentos levaram Yoritomo a desconfiar que, devido à incrível popularidade conseguida por Yoshitsune, este poderia insurgir-se contra ele e tomar o poder. Então, ordenou que seu exército fosse ao encontro de Yoshitsune e acabasse com a vida dele. Realmente, havia comentários na corte que, se Yoshitsune batesse o tamborete tsuzumi, presenteado pelo imperador, uma rebelião seria conduzida com apoio da corte imperial contra o xogum Yoritomo. Entretanto, apesar de saber que seu irmão enviara um exército para matá-lo, Yositsune não bateu o tamboril, porque não queria guerrear com seu próprio irmão e com ele procurava conciliação.
Naquele dias, ocorreu um imprevisto: Mussashi-bo Benkei, monge guerreiro e fiel servidor de Yoshitsune, matou um soldado de Yoritomo, tornando quase impossível um entendimento entre os irmãos. Yoshitsune ficou furioso com Benkei e mandou que ele desaparecesse de sua frente, porém Shizuka intercedeu pelo amigo, dizendo a Yoshitsune que Benkei matou o servidor de Yoritomo por fidelidade a ele e deveria ser perdoado.
Como Yoshitsune não queria que seus fiéis guerreiros enfrentassem os soldados de Yoritomo, a única alternativa foi fugir para evitar o confronto.
Acompanhado de Shizuka e de cinco fiéis guerreiros: Mussashi-bo Benkei, Kamei Rokurô, Kataoka Hachirô, Ise Saburô e Suruga Jirô, para não chamar atenção por onde passasse, Yoshitsune empreendeu uma fuga e chegou ao santuário Inari (raposa) em Fushimi, localidade ao sul de Quioto.
Esse episódio envolvendo Shizuka e o tamboril deu origem a uma das mais famosas lendas do Japão.
Os cinco fiéis guerreiros de Yoshitsune reuniram-se e resolveram que Shizuka não devia mais acompanhar o grupo, pois estava retardando a fuga e pondo em risco a vida de todos. Se continuasse assim, seriam alcançados e exterminados pelo exército de Yoritomo.
Mas Shizuka queria acompanhar seu amado de qualquer modo e estava inflexível sobre a questão. Então, como prova de seu amor, Yoshitsune deixou sob a guarda dela o precioso tamboril que recebeu do imperador. Mesmo assim, Shizuka insistia em segui-lo. Não restou outra opção a Yoshitsune senão mandar seus guerreiros amarrarem as mãos de Shizuka num pilar do santuário.
– Logo, os sacerdotes estarão de volta e vão te libertar. Entenda que isso é para seu próprio bem, pois, se o exército de Yorimoto nos alcançar, não vão deixar ninguém vivo para contar a história.
Assim, Yoshitsune e seus guerreiros partiram do santuário Inari. Porém, antes que os sacerdotes voltassem, uma tropa comandada pelo capitão Hayami-no-Tota encontrou Shizuka.
– Mas que boa surpresa! A mais bela dançarina do Japão abandonada pelo seu herói e amante Yoshitsune.
– Abandonada nunca! Tenho comigo a prova do grande amor de Yoshitsune por mim: o tsuzumi imperial. Aconteceu que os guerreiros concluíram que eu estava atrasando seus passos e me forçaram a ficar aqui no santuário, sob a proteção dos sacerdotes – disse Shizuka, irritada.
– Soltem as mãos dela e vamos levá-la como prisioneira. Para mim, foi um presente dos deuses, eu não pretendia mesmo enfrentar os valentes guerreiros de Yoshitsune. Mas, levando sua amante e o famoso tamboril imperial, serei fartamente recompensado pelo comandante Yoritomo.
Os soldados de Tota agarraram Shizuka e arrastaram-na para fora do santuário Inari. A dançarina gritava a todo pulmão, resistindo violentamente à ação dos brutamontes. Naquele momento, surgiu um valente guerreiro. E, com incrível força e agilidade, foi derrubando um por um os soldados inimigos.
O guerreiro em questão era Sato Tadanobu, um fiel servidor de Yoshitsune. Assustados com a força sobre-humana de Tadanobu, os soldados saíram correndo de medo. O capitão Hayami estava fugindo com o tamboril. Vendo o instrumento musical sendo levado pelo inimigo, Tadanobu ficou furioso e perseguiu-o com incrível velocidade. Tomou o tamboril, matando Hayami-no-Tota a chutes, socos e golpes de artes marciais.
Yoshitsune e seu grupo, que ouviram os gritos de Shizuka ecoando montanha acima, voltaram a tempo de assistir de longe a façanha de Sato Tadanobu.
– Sou eternamente grato por ter salvado Shizuka e o tamboril. Mostrou uma valentia digna de um guerreiro Genji. Mas você não estava na sua terra natal, cuidando de sua mãe doente?
– Quando soube do desentendimento entre você e seu irmão, vim correndo para juntar-me a vocês.
– Tenho dois pedidos a lhe fazer: primeiro, aceite esta armadura como símbolo de minha gratidão. Segundo, peço que retorne a Quioto levando Shizuka. Seja a sombra dela, protegendo-a até que haja conciliação entre mim e meu irmão.
Sato Tadanobu abaixou a cabeça, expressando sua fidelidade, e Yoshitsune partiu confiante que sua amada estava segura sob a guarda do valente Tadanobu.
Com a investida do capitão Hayami-no-Tota, a bela Shizuka Zenshi compreendeu quanto sua presença seria perigosa na fuga de Yoshitsune. Assim, resignada, tomou o caminho de Quioto em companhia de seu guarda-costas, Tadanobu.
Pouco depois da primeira caminhada, encontraram um camponês que os alertou do perigo em continuarem na direção da capital. O exército de Yoritomo havia colocado postos de guarda nas divisas de cada cidade e várias tropas vinham naquela direção, vasculhando tudo.
Shizuka então resolveu que deveriam ir atrás de Yoshitsune, e ambos retornaram, seguindo na direção para onde fora o irmão de Yoritomo. O Monte Yoshino estava ainda coberto de neve, mas as mil cerejeiras já estavam todas floridas.
Shizuka ficou deslumbrada ao ver que o Monte Yoshino estava totalmente cor-de-rosa. Coberta de cerejeiras em flor, a floresta era um espetáculo da natureza de indescritível beleza. Então, ela resolveu descansar sob uma árvore, enquanto apreciava as flores.
De repente, ela percebeu que Sato Tadanobu havia desaparecido. Olhou para todos os lados e não havia ninguém perto dela. Vendo as pétalas das cerejeiras caindo levemente como plumas ao vento, Shizuka colocou o tamboril no ombro e resolveu tocar o instrumento enquanto cantava uma canção de amor e ensaiava passos de dança.
Quando ela produziu sons no couro do tamboril, repentinamente o guerreiro Sato Tadanobu surgiu ao lado dela. Shizuka levou um susto, mas conteve a emoção e continuou com sua música. Sem resistir à melodia, Tadanobu fez contradança com Shizuka.
Ela ficou admirada com a habilidade que Tadanobu tinha para dançar, pois era quase inacreditável que um homem forte, robusto e grande como ele pudesse dançar com gestos delicados de tamanha leveza.
Shizuka começou a desconfiar que aquele não era o guerreiro Tadanobu, mas, antes que pudesse interrogá-lo, ele havia desaparecido novamente. Solitária na bela paisagem florida do Monte Yoshino, a dançarina Shizuka compunha verbalmente poesias para seu amado. Quando tocava o tamboril para fazer acompanhamento, Tadanobu surgia repentinamente ao seu lado. Havia um mistério no ar.
Na verdade, aquele não era o verdadeiro Sato Tadanobu, e sim uma raposa branca encantada que se fazia passar pelo guerreiro. Pelo fato de ser uma raposa branca, quando não estava transformada na figura de Tadanobu, era confundida com a neve que cobria o chão do Monte Yoshino.
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